Correios: saiba o que está por trás da crise que se arrasta por 12 trimestres de prejuízos

  • 19/10/2025
(Foto: Reprodução)
Correios Marcelo Camargo A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, os Correios, enfrenta uma crise econômico-financeira, que começou em meados de 2022, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, e que continua na gestão Luiz Inácio Lula da Silva. Desde 2022, são 12 trimestres seguidos de prejuízos na empresa pública, que alcançou um déficit de R$ 4,36 bilhões no primeiro semestre de 2025. 🔎O termo "déficit" significa que os gastos somados foram maiores que a receita que os Correios conseguiu gerar no ano. Na última quarta-feira (15), a estatal anunciou que busca R$ 20 bilhões em empréstimo para tentar conter a crise. Os resultados negativos em sequência resultaram, no ano passado, no primeiro prejuízo bilionário da empresa desde 2016. Naquele ano, os Correios tiveram prejuízo de R$ 1,5 bilhão (R$ 2,3 bilhões, em valores atualizados). Em 2024, o prejuízo foi de R$ 2,6 bilhões. Veja abaixo, em tópicos, o principais fatores que levaram os Correios à atual situação: Gastos com pessoal Remessa Conforme Fluxo de Caixa Investimentos Precatórios Unidades deficitárias Medidas contenciosas Alternativas Correios anunciam plano para cobrir rombo bilionário nas contas da empresa Gastos com pessoal Um dos motivos que levaram ao primeiro prejuízo em 2022 não é muito diferente do que acontece na atual gestão: gastos com pessoal. À época, a gestão do presidente Floriano Peixoto Vieira Neto informou que os custos tinham aumentado em função de dois reajustes salariais, um de 9,75%, retroativo a agosto de 2021, após acordo com o Tribunal Superior do Trabalho (TST), em setembro de 2022. E outro de 10,12%, quase duas vezes maior que a inflação daquele ano, mais um abono indenizatório de R$ 1 mil para cada empregado. Os acordos coletivos de trabalho dos Correios são firmados ao longo do ano e por isso têm validade em um intervalo de 12 meses que atinge dois anos diferentes, geralmente o segundo semestre de um e o primeiro semestre do seguinte. Só naquele ano, o impacto dos dois reajustes salariais nas contas dos Correios foi de R$ 820,5 milhões. Entretanto, o segundo reajuste salarial, que também envolveu os vales de alimentação e de refeição, causou um impacto de R$ 1,3 bilhão para o ano de 2023, já sob a gestão do presidente Fabiano Silva. No ano seguinte, em 2024, os Correios assinaram um novo acordo coletivo que concedeu até 6,57% de reajuste salarial para 71 mil empregados, a inflação no ano foi de 4,83%. Somado a isso, também foi aprovado um reajuste aumentando a base salarial em 30%. E o impacto em 2024 foi uma elevação de gastos com folha de pagamento de R$ 894 milhões. Já o acordo coletivo estabelecido no ano passado previu um reajuste linear de 4,11% para os empregados e um benefício de gratificação de 70% a ser recebido nas férias seguintes à assinatura. Com isso, só no primeiro semestre deste ano de 2025 o aumento na folha de pagamento foi de R$ 547 milhões. Além desses gastos, em 2024 os Correios fecharam um acordo com a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (PREVIC) para assumir uma dívida referente ao "Plano de Benefício Definido (PBD)" de aposentadoria e pensão para os funcionários. Com isso, a empresa acordou pagar agora R$ 2,4 bilhões, corrigido pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) em 349 meses. E mais uma previsão de R$ 5,4 bilhões que deverão ser pagos conforme a aposentadoria dos beneficiários do plano. Remessa Conforme Outro fator que impactou diretamente a situação econômico-financeira da estatal foram as mudanças implementadas pelo programa "Remessa Conforme", criado pelo Ministério da Fazenda em 2023. O governo passou a cobrar imposto de importação de 20% sobre compras internacionais de até US$ 50, que até então estavam isentas para empresas. A medida ficou conhecida como "taxa das blusinhas". Com a instituição do programa, a legislação brasileira passou a permitir que empresas de transportes façam o frete pelo Brasil de mercadorias internacionais, deixando de ser obrigatória a distribuição das encomendas junto aos Correios, como era feito até então. E isso gerou um impacto significativo nas receitas dos Correios. Um estudo produzido pela empresa no começo do ano apontou que a estatal teve uma frustração de receita de R$ 2,2 bilhões após o implemento do programa. As demonstrações financeiras de 2024 apontam que houve uma redução de receita com encomendas internacionais de R$ 531 milhões, em relação a 2023. 'Taxa das blusinhas': Veja como ficam os preços de produtos internacionais com novo imposto Já para o primeiro semestre de 2025, os Correios obtiveram R$ 815 milhões de receita com as encomendas internacionais e viram a redução dessa renda despencar em R$ 1,3 bilhão em relação ao mesmo período do ano passado, quando registrou R$ 2,1 bilhões. Com a difusão das compras por meio de marketplaces internacionais, nos últimos anos, essa receita chegou a responder por quase 25% de todo o faturamento da empresa. Ainda no primeiro semestre deste ano, os Correios até conseguiram aumentar suas receitas com transporte de encomendas em território brasileiro, entretanto não foi o suficiente para melhorar o resultado financeiro da empresa. Fluxo de caixa Com o aumento de despesas e a redução de receitas, o maior impactado é o caixa da empresa. Em 2023, a empresa fechou o ano com R$ 3,2 bilhões disponíveis para uso ou em aplicações financeiras. Entretanto, após uma série de medidas que geraram despesas, a empresa fechou o ano de 2024 com R$ 249 milhões em caixa. Uma redução de 92%. Ao final do ano passado, a situação já era considerada crítica e os Correios tomaram R$ 550 milhões em empréstimos junto aos bancos Daycoval e ABC para conseguir pagar as contas de final de ano. Ao todo, os Correios estimam pagar R$ 69 milhões em juros com esses empréstimos, o equivalente a 13% do valor total captado. A empresa pegou os empréstimos e decidiu quitá-los integralmente em 2025. As parcelas começaram a vencer neste mês de julho e seguem até dezembro. Sem dinheiro em caixa, os Correios estão desde o final do ano passado com relevantes dificuldades fiscais, o que tem gerado atrasos nos pagamentos de credores. Em julho, o g1 obteve acesso a um documento no qual a empresa formaliza o adiamento no pagamento de diversas obrigações, que somam R$ 2,75 bilhões. “Com foco na continuidade das operações, essa iniciativa teve como objetivo central preservar a liquidez e reequilibrar, ainda que temporariamente, a estrutura do fluxo de caixa, mitigando os efeitos imediatos do desequilíbrio financeiro entre entradas e saídas”, afirma o texto. E, para pagar os dois empréstimos de 2024 e parte das demais contas, em junho, a gestão do ex-presidente Fabiano Silva tomou outro empréstimo, com um consórcio de bancos, no valor de R$ 1,8 bilhão e com a expectativa de pagar R$ 367 milhões em juros. A empresa estima que a taxa de juros efetiva para esse empréstimo é de 21,99% ao ano. O atual presidente da empresa, Emmanoel Schmidt Rondon, justificou que os Correios estão em busca de um empréstimo de R$ 20 bilhões também como forma de diminuir a taxa de juros contratada na gestão passada. Ao todo, o dinheiro seria usado para liquidar os empréstimos em aberto e dar fôlego ao caixa da empresa. “A gente precisa recuperar a liquidez da empresa para que a gente possa, por exemplo, ter capacidade de pagar o Plano de Demissão Voluntária (PDV). Estamos fazendo uma operação com bancos para a realizar uma operação de tomada de recursos”, afirmou o presidente. Investimentos Nas Demonstrações Financeiras de 2024, os Correios informaram que, mesmo em meio a dificuldades financeiras, investiram R$ 830 milhões ao longo do ano, totalizando R$ 1,6 bilhões desde que a nova gestão assumiu. Em meio à crise com Lula, União Brasil pressiona pelos Correios e Banco do Brasil Nos últimos dois anos, foram R$ 698 milhões na aquisição de novos veículos e outros R$ 600 milhões gastos em manutenção da infraestrutura operacional da empresa. 🚐Parte dos veículos adquiridos faz parte do plano estratégico da empresa de 5 anos para transição ecológica de suas atividades. Desta forma, apenas em 2024 foram adquiridos: 50 furgões elétricos; 3.996 bicicletas cargo com baú; e 2.306 bicicletas elétricas. A empresa ainda comprou 1.502 veículos para renovar a frota já existente. E, apesar do prejuízo em 2024, a empresa reafirmou que manterá sua estratégia de investimentos que ampliem "soluções tecnológicas" e reduzam o impacto no meio ambiente. "A sustentabilidade continuará a ser tema central em nosso dia a dia. Esperamos evoluir ainda mais em nossos propósitos de caráter social e ambiental", afirmou a empresa. Precatórios Em grandes empresas, como os Correios, uma conta que tem muita importância é a de processos judiciais. Segundo regras contábeis, nelas são registrados todas as estimativas de prováveis perdas que a empresa pode ter em função de disputas judiciais. E, no caso das empresas públicas, quando uma decisão judicial é desfavorável e precisa ser paga, ela se torna um precatório, que é a promessa de pagamento mas em um determinado período, respeitando os limites orçamentários – uma vez que o governo não pode pagar algo que não foi previsto anteriormente na elaboração do orçamento. Durante o ano de 2023, a gestão do então presidente Fabiano Silva optou por fazer um acordo de desistência com Tribunal Superior do Trabalho (TST), com o objetivo de reduzir o número de processos trabalhistas em tramitação, aceitando a derrota e se comprometendo a não recorrer de decisões. Ou seja, os Correios aceitaram que deveriam desembolsar essa quantia nos anos seguintes. O acordo afetou 3.781 ações que corriam no tribunal. Com isso, as despesas com precatórios dispararam no período, atingindo R$ 1,6 bilhão em junho de 2025, mais de três vezes o que foi registrado em 2022. De acordo com uma estimativa de quitação feita pelos Correios nas Demonstrações Financeiras de junho deste ano, a empresa ainda tem a pagar em 2025 R$ 913 milhões em precatórios. Para todo o ano de 2026 o valor previsto é de R$ 1 bilhão e para 2027, R$ 44 milhões. Entretanto, esses valores podem aumentar em caso de novas derrotas ou acordos de desistência na Justiça. Unidades deficitárias Entre as justificativas para o resultado negativo de 2024, dadas pelos Correios na apresentação das Demonstrações Financeiras está a de que apenas 15% das 10.638 unidades de atendimento têm superávit – quando as receitas são maiores do que as despesas. "Ainda que 85% das unidades sejam consideradas deficitárias, os Correios garantem o acesso universal de todas e todos aos serviços postais, com tarifas justas, em cada um dos 5.567 municípios atendidos", ponderou os Correios. Lidar com agências deficitárias é um problema que a estatal brasileira passa por ser membro da União Postal Universal (UPU), que a obriga, por exemplo, a garantir a distribuição de encomendas em todo território nacional. Assim, ela fica impedida de se desfazer de algumas unidades que trazem prejuízo por serem postos de apoio necessários para cumprir com as exigências da UPU. Medidas contenciosas Para tentar contornar os recorrentes prejuízos e a baixa disponibilidade de dinheiro em caixa, por três vezes as gestões dos Correios anunciaram planos estratégicos, o último na quarta-feira (15). Entretanto, este último plano é uma releitura das medidas que já estavam sendo adotadas pela gestão anterior dos Correios. Ainda não se sabe os impactos que tiveram desde que anunciadas em maio. “Não temos o impacto total que as medidas anteriores tiveram, mas elas foram emergenciais, e não reestruturantes como agora”, afirmou o atual presidente da empresa, Emmanoel Schmidt Rondon. Na quinta, o atual presidente um plano de medidas se divide em três grupos: Corte de despesas operacionais e administrativas; Busca pela diversificação de receitas, com recuperação da capacidade de geração de caixa; Recuperação da liquidez da empresa. Correios anunciam novas medidas para estancar prejuízo de quase R$ 3 bi Para atender ao primeiro grupo, Rondon informou que será aberto um novo Plano de Demissão Voluntária (PDV) dos funcionários para equilibrar as contas. Mas o presidente dos Correios não entrou em detalhes sobre como o programa será feito. Em maio, a empresa encerrou outro PDV, que teve uma adesão de 2.500 funcionários e um impacto de R$ 220 milhões no balanço. A empresa também colocará à venda imóveis ociosos e buscará renegociar os contratos com os maiores fornecedores, “sem colocar em risco a segurança jurídica das operações”, que por vários momentos foram paralisadas em função de atrasos. De acordo com as Demonstrações Financeiras de junho de 2025, até o momento a empresa conseguiu vender R$ 2,9 milhões de imóveis ociosos. Para atender o segundo ponto, o presidente dos Correios pontuou que a empresa vai buscar ampliar a receita da empresa por meio de novos produtos, que não foram detalhados. E o terceiro tópico é a busca pelo empréstimo de R$ 20 bilhões, que aliviará o caixa da empresa entre 2025 e 2026, ajudando na reestruturação a longo prazo. Medidas tomadas em maio de 2025: ➡️ Revisão da estrutura dos Correios Sede: redução de pelo menos 20% do orçamento de funções (redução dos cargos comissionados); ➡️ Incentivo à redução da jornada de trabalho: diminuição do horário de trabalho para 6 horas diárias e 34h semanais. Atualmente, são 8h diárias e 44h semanais. ➡️ Suspensão temporária de férias: a partir de 1º de junho de 2025, referente ao período aquisitivo deste ano. As férias voltarão a ser usufruídas a partir de janeiro de 2026; ➡️ Prorrogação das inscrições para o Programa de Desligamento Voluntário (PDV): até 18 de maio de 2025, mantendo os atuais requisitos de elegibilidade; ➡️ Incentivo à transferência, voluntária e temporária, de agente de correios: o pagamento do adicional de atividade será o mais vantajoso para empregados; ➡️ Convocação para o retorno ao regime de trabalho presencial: todos os empregados devem retornar ao trabalho presencial a partir de 23 de junho de 2025, com exceção daqueles protegidos por decisão judicial; ➡️ Lançamento de novos formatos de planos de saúde: a escolha da rede credenciada será dialogada com as representações sindicais. A economia estimada será de 30%; ➡️ Lançamento do marketplace próprio ainda em 2025; ➡️ Captação de R$ 3,8 bilhões com o New Development Bank (NDB), para investimentos internos. ➡️ Compartilhamento de unidades operacionais ➡️ Venda de imóveis ociosos ➡️ Redução de custos com manutenção ➡️ Otimização da malha operacional e logística ➡️ Revisão de contratos nas 10 maiores Superintendências Estaduais ➡️ Reestruturação da rede de atendimento ➡️ Aprimoramento da malha de transporte aéreo e terrestre Alternativas Além da busca por um equacionamento econômico-financeiro por meio da redução de despesas e aumento de receitas e do empréstimo de R$ 20 bilhões que a empresa está buscando, um velho tema volta à tona como opção para a empresa nos bastidores da Esplanada dos Ministérios: a privatização dos Correios. Para o jurista Fernando Vernalha, o assunto deve, sim, ser reconsiderado como uma alternativa ao modelo atual de gestão que vem sendo praticado. "Deveríamos debater o assunto, com mais pragmatismo e com desprendimento ideológico. A gente precisa olhar para o problema dos Correios com uma visão mais pragmática, o que é melhor para nós, para o cidadão, para União, do ponto de vista econômico?", afirmou Vernalha. Entretanto, ele pondera que uma possível privatização pode ter dificuldade em função da forma como pode ser feito o desmembramento da empresa, que precisa atender todos os municípios brasileiros mesmo que essas operações apresentem prejuízo. "A gente já teve o desafio de universalizar vários serviços públicos, como telefonia, e houve concessões ou privatizações com modelagens que conseguiram associar o filé e o osso, com frentes mais rentáveis e frentes deficitárias", avaliou o especialista.

FONTE: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/10/19/correios-saiba-o-que-esta-por-tras-da-crise-que-se-arrasta-por-12-trimestres-de-prejuizos.ghtml


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